Sunday, July 02, 2006

Lugares Comuns

Personagem: Um velho professor em sua última aula, pois soube que foi demitido.


Minha preocupação é que vocês se lembrem de que ensinar é mostrar. Mostrar não significa doutrinar. Significa dar informação, mas também mostrar como compreendê-la e analisá-la, como raciocinar e contestar essa informação. Se algum de vocês for retardado mental e acreditar em verdade revelada, em dogma religioso ou doutrinas políticas, seria mais saudável escolher outra profissão, como pregar de um púlpito ou em praça pública. Se tomarem a infeliz decisão de continuar com isso, tentem deixar suas superstições do lado de fora, antes de entrar na sala de aula. Não obriguem seus alunos a memorizar coisas. Não funciona. Eles rejeitam e rapidamente esquecem o que lhes é imposto. Nenhum jovem será um ser-humano melhor porque sabe em que ano Cervantes nasceu.

Procurem fazê-los pensar, duvidar, se perguntar. Não os julguem pelas respostas, as respostas não são a verdade, a busca delas pela verdade será sempre relativa. As melhores perguntas são as que as pessoas se têm feito desde os tempos dos filósofos gregos. Muitas agora são clichês, mas ainda são válidas: O quê? Como? Quando? Onde? Por quê? Se aceitarmos que a jornada é a meta, a resposta é inválida. Ela descreve a tragédia, mas não a explica. Existe uma tarefa que eu gostaria que vocês executassem. Ninguém lhes designou esta tarefa, mas espero que vocês como professores assumam a responsabilidade de levá-la diante: despertar seus alunos para a dor da lucidez. Sem limites. Sem piedade.

Ah, a lucidez...

A lucidez pode jamais despertar, mas, se despertar, não há como evitá-la. E, quando ela chega, fica para sempre. Quando a gente percebe a falta de sentido na vida, nota que não há objetivos, nem progresso. Compreende, embora possa não querer aceitar, que a vida nasce com a morte ligada a ela, que vida e morte não são consecutivas, mas simultâneas e inseparáveis. Se a gente consegue manter a sanidade e cumprir as normas e rotinas em que não acredita, é porque a lucidez faz a gente ver que a vida é tão banal, que não pode ser vivido como uma tragédia.

Trecho do filme argentino, abre aspas: "Lugares Comuns"

4 Comments:

Blogger K. said...

um filme para se ver e se fazer visto. obrigada pela dica.

6:08 AM

 
Blogger Sarah said...

Se a gente consegue manter a sanidade e cumprir as normas e rotinas em que não acredita, é porque a lucidez faz a gente ver que a vida é tão banal, que não pode ser vivido como uma tragédia.

em negrito. =)

4:35 AM

 
Blogger tina oiticica harris said...

Este post passou desapercebido no meu sisteminha de blogroll. Mas o de hoje pintou e fui"Primeira!"

Ah, ser professor, que profissão ingrata. Vou virar a página, okay?

10:28 PM

 
Blogger Rodrigo M. Freire said...

FILMAÇO!

8:13 PM

 

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