Tempos Fantásticos
- Ok Paulo. Eu tô aqui! ela tá sentada ali! a mulher da minha vida tá sentada ali! e eu tô aqui!
---Ele tá olhando pra cá! Tá vendo?
- Paulo. Você já se apaixonou assim, subitamente?
- Mas você já tá apaixonado? estamos aqui há 15 minutos!
- Sim. Tô. Nessas horas o tempo é relativo. Sim, aqui a teoria do Einstein é terrivelmente clara. Talvez Ele tenha deduzido a relatividade após uma paixão.
- É. Espera um pouco que eu vou pedir uma caneta ao garçom e uma calculadora ao caixa do restaurante. Quem sabe você não deduza uma teoria também.
- Talvez Paulo, talvez. Olha, ela tá pedindo algo ao garçom.
- E daí?
- E daí?! Aposto que ela vai pedir algo interessante!
- Uma camisinha talvez!
- Não, Paulo. Ela vai me surpreender, eu sei.
- Realmente surpreendente: Ela pediu água.
- Viu? Ela poderia pedir um Bordeaux ou coisa do tipo, mas não, ela simplesmente pediu água. Ela é especial!
- É. Ela e todos os mortos de sede do mundo. Afinal, viemos aqui pra comer ou pra observá-la?
---Tô, e ele realmente tá olhando pra cá. E continua...e continua...
---Certo. Eu não vou olhar pra ele. Não vou.
---Por que?
---Por que!? Hoje eu não tô disposta a quebrar minha promessa número 3, àquela relacionada a desilusões amorosas.
---Amiga, eu acho que hoje seria um dia ideal pra quebra dessa promessa...e ele continua olhando!
---É? Será?
---É. Olha pra ele.
---Hum. É, ele até que é bonitinho...tem um certo charme...veste-se bem...olha, ele coça o nariz engraçado, meio meigo...ele parece meio desajeitado, gosto disso...
---Tá bom! tá bom! Pára de olhar um pouco!
---Amiga. Eu acho que a promessa de número 3 tá correndo sérios, terríveis riscos.
- Você viu? Ela olhou pra cá. Paulo, pois saiba que agora eu vou observá-la até o fim. Não saiu mais daqui nem que ocorra o fenômeno mais surreal do mundo lá fora. Eu não quero perdê-la de vista...nem de olfato, nem de tato, nem de...
- Pára, Pára. Eu acho que você tá exagerando.
- E viva o exagero!
- Você tá sendo irracional.
- E viva a irracionalidade!
- Você tá sendo piegas.
- E viva a pieguice...aliás se tivesse um karaokê aqui eu vestiria um terno branco, pegaria um microfone dourado e cantaria com voz rouca:
“don't you remember you told me you love me baby
you said you'd be coming back this way again baby
baby baby baby baby oh baby
I love you, I really do”
E depois:
“Por lo que tú más quieras
¿Hasta cuándo? ¿Hasta cuándo?
Y así pasan los días
Y yo, desesperando
Y tú, tú contestando
Quizás, quizás, quizás”
- Você tá maluco cara, eu juro!
- E viva a loucura. A loucura dos apaixonados. A loucura dos lunáticos redundantes. A loucura dos amores paradoxais. Por ela eu seria infeliz para sempre!
- Maluco.
- Paulo, você ama sua namorada?
- Claro que não!
- Você é apaixonada por ela?
- Não!
- Você gosta dela?
- Um pouco!
- Você é feliz com ela?
- Às vezes!
- Por que você continua então?
- Isso é normal, não precisa tá apaixonado, todo mundo faz isso!
- Que triste cara e você ainda vem me criticar quando digo que quero ser infeliz pra sempre, pelo menos eu amo. Eu amo e vou mandar um bilhete pra ela agora. Preciso de papel Paulo.
- Eu vou ao banheiro agora, na volta pego papel.
- Traz uma calculadora também, afinal, nunca se sabe.
- Tá. E uma camisa de força também, né?
- E viva as...
- Ok! Ok! Já vou!
---Ele parou de olhar.
---É, eu percebi, será que ele vai pedir a conta?
---Acho que sim!
- Pegou?
- Sim, aqui.
- O que eu escrevo?
- Tenta uma teoria quem sabe você não ganha um nobel...sei lá...de química.
- Química! É isso!
- Hã?
Eu queria dizer-lhe algo. Desde quando a vi algo em mim mudou. Eu não sei ao certo quais reações físico-químicas ocorrem conosco quando essas coisas acontecem, mas começar essa análise pelo coração é o mais certo. Eu sei também que isso é absurdo, afinal, como em tão pouco tempo uma pessoa apaixona-se tão perdidamente por outra sem mal trocarem olhares? Talvez seja difícil entender, mas eu tô! eu sei que tô! eu seria capaz de falar agora mesmo olhando em seus olhos sem retórica nenhuma, totalmente verdadeiro: “eu te amo!”, aliás eu falaria essa frase pra você até o fim dos nossos dias e pra não ficar chato eu criaria uma linguagem. Isso. A nossa língua é muito limitada pra dizer a uma pessoa que ama. Eu criaria uma nova linguagem, com uma nova sintaxe e uma nova semântica, nela eu criaria várias formas de dizer-lhe: “eu te amo”!
---Se aquilo for a nota da conta, bom, o nome dele é bem grande.
---Não, não é! Ele tá rasgando.
---Por que será?
- Droga, que horrível!
- Por que rasgou?
- Não sei, é meio patético. Ela deve me achar patético.
- Hum.
- Vamos embora cara.
- Ok.
1 Comments:
por isso a gente não encontra os caras
eles estão por aí rasgando bilhetes
8:14 PM
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